Uma parte da minha alma morre

Essa fração do meu ser hoje desmorona,
Sangra em profusão, já não resiste e chora.
Sua fragilidade só piora,
Perderei este milagre fugaz, em má hora
Sentia me divina, me provocavas,
Desde menina eu já o intuía, mágica me sentia.
O órgão mais exultante e maleável tu eras,
Não quero me despedir, é minha covardia,
sabia, pressentia que mãe eu seria.
A vida resistia com infertilidade implacável,
negações ocultas, mas eu insistia,
pois eu compreendia que meu útero era inexorável.
E não era.
Hoje começas a enfraquecer,
começas a morrer, como eu,
a cada entardecer, começamos a envelhecer.
Hoje amanheci com tua partida cheia de dor.
Desolada eu fico,
retira-se a luz, o sol das minhas entranhas?
Cheia de paixão e dor sem abrigo,
irá minha alegria que gerou cinco façanhas?
E só três sobreviveram, são meu abrigo.
Minha alma abandonada só soluça,
tua partida me deixa com sangue e tristeza.
Meu útero, de dor, transborda e pulsa,
meu pedaço de alma de mim se dispersa.
Meu desamparo se enche de lágrimas,
meu sol, meu verão se afastam da minha essência.
Não serei inteira se hoje me deixas,
quantas vezes já sofri por tua indiferença.
Meus partos foram precoces,
incansável órgão, sem rancores.
Obrigada por seres o ninho dos meus amores.
Insondáveis milagres são tuas paixões.
Obrigada por acolher meus filhos amados,
que dor intensa e profunda têm se aninhado.
Meu útero querido, meu berço sagrado,
as mais frágeis e eternas vidas tens gerado.
Despedida do meu útero é hoje de grande eloquência,
Vibrando com dores e espasmos sem clemência.
Estou vivendo horrores, por tua permanência,
Hoje me desangras, creio que são teus lamentos, tua insistência.
Recheado de feitos, te recordo com aflição…
Com dor e desespero, sofro tua persistência,
Meu corpo já não suporta tamanha resistência, já não posso mais…
Me desangras com obstinação e com resistência,
Meu útero amado, chegou a tua partida,
Não quero mais sangrar, não vejo saída.
Te digo adeus e agradeço, te quero,
Parte da minha alma morre, com o coração inteiro.
Sem mais razão, sem consolo,
Sutileza divina, tu partes primeiro.
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